Thriller vigoroso, sem falsos moralismos (o crime, afinal, para o casal protagonista, compensa), Os implacáveis (The getaway, 1972), de Sam Peckinpah (1924/1984), incorpora, inclusive, procedimentos resnaisianos ao gênero (como nos lances de memória, que se poderia dizer flashes de memória, quando Steve McQueen, logo na apresentação, dentro da cela, pensa na mulher que deixou, Ali MacGraw), além da montagem procurar, ao mostrar o trabalho dos presidiários, uma associação não de continuidade, mas de significações através das ações humanas e dos objetos que adquirem, na composição peckinpahniana, um sentido que é acrescido à representação da imagem, como queria André Bazin. Há quase trinta e sete anos de sua realização, The getaway se mostra uma obra ágil, vibrante, como se tivesse sido realizada nos dias atuais. Aliás, Peckinpah em Meu ódio será tua herança (The wild bunch, 1968) já preconizava um cinema de cortes rápidos em determinadas seqüências (como a do tiroteiro final avassalador e terminal), nunca, porém, como se faz hoje, com a abominável estética da tesourinha, quando a narrativa cinematográfica vira um papel picado não deixando ao olhar qualquer possibilidade de contemplação. The wild bunch é um filme que detona uma escrita que seria tomada como base pelos cineastas (como o uso da câmera lenta para enfatizar e robustecer a violência).
Em 1994, seguindo à risca o roteiro de Walter Hill (que viria a dirigir ótimos filmes de ação), Roger Donaldson realizou um remake de The getaway, que serve de exemplo, apesar de um filme fraquíssimo, como a mão de um grande diretor é que determina a excelência de um filme. O caso de Gus Van Sant no remake de Psicose é também exemplar, porque, mesmo contando com os préstimos do mesmo roteirista de Hitch, o resultado foi desastroso.
O primeiro filme notável de Peckinpah, depois de realizados vários filmes de ação, está em Pistoleiro ao entardecer (Ride the high country, 1961), western outonal, crepuscular, que prenuncia a morte do gênero, com Joel McCrea e Randolph Scott como dois velhos pistoleiros que já sentem os sinais do tempo e da finitude da vida, mas, mesmo assim, insistem na permanência como cowboys. Obra melancólia, de rara beleza, que também pode ser comparada a O homem que matou o facínora, do grande John Ford, também um western do crepúsculo.
McQueen, um tipo admirável, raro se se pensar no cinema contemporâneo tão cheio de adamascados, teve um affair impetuoso e implacável com Ali MacGraw, que, na época, era esposa do presidente da Paramount. Na cena em que ele bate nela, encostados num carro numa estrada, Peckinpah o orientou no sentido de socá-la com vontade. Ele é um vigarista que, ao sair da prisão, rouba um banco e foge com a mulher para o México. No trajeto tem que enfrentar os rivais que o perseguem e querem matá-lo.
Clique na imagem para vê-la maior.
2 comentários:
McQueen foi um ator que cumpriu o papel durante sua vida, pode-se até dizer: um tanto quanto breve, pois morreu aos 50 anos.
Ainda esta semana estava a rever "O canhoneiro do Yang-Tsé" (Sand Pebbles - 1966 - Robert Wise) e nota-se que sua interpretação (trejeitos e poses à parte), tem um bom lado dramático.
Vi este filme de Robert Wise no antigo cinema Guarany na década de 60, e gostei muito, mas, ano passado, revi-o em DVD e não me entusiasmou. Parece que funciona mais na tela grande. Em todo casos, há momentos apreciáveis, principalmente na primeira parte, porque o terço final me pareceu decepcionante.
Postar um comentário