Os poucos que votaram na última enquete, sobre o melhor crítico de cinema do passado, deixaram o espaço reservado para Francisco Luiz de Almeida Salles sem nenhum voto depositado. Sem entrar na questão do melhor, Almedia Salles foi, sim, um dos mais talentosos críticos de cinema no Brasil numa época, inclusive, que a crítica se iniciava nas páginas dos jornais. Via o cinema como uma estrutura audiovisual, como devia, e, neste ponto, foi um dos pioneiros. Paulo Emílio (primeiro lugar, 8 votos dos 24 votantes, 33%), muito importante, e o que venceu a enquete, pensava a sociedade através das imagens em movimento e tinha uma prosa admirável, assim como Walter da Silveira (segundo lugar, 6 votos dos 24, 25%), da Bahia, e que teve, agora, editados quatro volumes do seu pensamento cinematográfico. Moniz Vianna (5 votos, 20%), crítico do choque, segundo palavras de Paulo Perdigão, traumatizou toda uma geração de cinéfilos com suas diatribes no extinto Correio da Manhã. Crítico formador, um nome que vai ficar para sempre registrado na memória daqueles que o leram. Quanto a José Lino Grunewald, teve a audácia de romper com a crítica convencional e inaugurar, no Jornal das Letras, uma, por assim dizer, nova-crítica, conforme se pode perceber na reunião de seus textos efetuada por Ruy Castro. E Rubem Biáfora deixou uma legião de admiradores de seus comentários particularíssimos em O Estado de S. Paulo.
Quanto aos outros, todos de grande valor também, como P.F. Gastal, do Rio Grande do Sul, assim como, deste estado, Hélio Nascimento. Mas menos conhecidos, menos lidos, mais regionais. Já Ely Azeredo, em sua época áurea no Jornal do Brasil foi um crítico de escol e não merecia um tracinho na enquete. Fazia parceria com José Carlos Avellar, dois antípodas. Aliás, houve um lapso na enquete com a ausência de Avellar, um dos críticos importantes da imprensa. Mas o lapso se justifica porque ainda continua na ativa e a enquete se relacionou a críticos do pretérito e alguns que constam, mesmo que vivos, já se aposentaram do ofício. Os mineiros Ciro Siqueira e Jacques do Prado Brandão tiveram a sua importância no panorama belorizontino.
Reservo aqui uma homenagem a Paulo Perdigão (2 votos, 8%), grande crítico, autor de um indispensável livro sobre o western clássico, Shane, que morreu ano passado. Ele é da geração de Sérgio Augusto, que não foi colocado porque continua ainda firme e forte nos seus escritos, ainda que variados e não mais especificamente cinematográficos. Outro que já se foi desta para melhor: Maurício Gomes Leite. Alguém ainda se lembra dele? Também cineasta: A vida provisória, filme da segunda metade da década de 60, quando visto a impressão que se teve foi muito boa, com Paulo José, Dina Sfat, Mário Lago e uma ponta de Carlos Heitor Cony no final.
Recomendo aos leitores deste blog a leitura das antologias editadas pela Companhia das Letras: Um filme por dia, de Antonio Moniz Vianna e Um filme é um filme, de José Lino Grunewald, que tiveram a seleção de Ruy Castro, que publicou, também, para a mesma editora, um livro muito interessante e de grande prazer de leitura: Um filme é para sempre.
Um comentário:
Setaro, muito boa a enquete :) Votei em Moniz Vianna, só senti falta foi do grande Salvyano Cavalcanti de Paiva. Abraços.
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