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30 agosto 2008

Romy Schneider: beleza e explicação da beleza

A beleza de Romy Schneider sempre me fascinou. Conheci-a, através das telas, das imagens em movimento, ainda menino vendo a trilogia de Sissi (1955), de Ernst Marischka, que foi lançado três anos depois de sua estréia na Alemanha, como era de praxe naquela época (para se ter uma idéia, Os dez mandamentos, de Cecil B. DeMille, feito em 1955, somente teve lançamento no Brasil em 1959). O primeiro Sissi, ainda que um filme histórico com acentos melodramáticos, encantou o público, e seus produtores o fizeram continuar: Sissi, a imperatriz (Sissi - Die junge Kaiserin, 1956) e Sissi e seu destino (Sissi - Schicksalsjahre einer Kaiserin, 1957), todos de Marischka, artesão mediano mas com faro comercial. O menino, eu, na segunda metade da década de 50, apaixonou-se por duas mulheres: Brigitte Bardot, a eterna, e Romy Schneider. Quem não viveu a época não pode ter idéia da repercussão da série Sissi e como os cinemas ficavam lotados, e a ansiedade na espera do próximo filme. Não resta dúvida que os anos dourados eram mais ingênuos e menos petulantes. Não havia, neles, a palavra contemporaneidade.
Mas a bela Romy Schneider foi aproveitada em outros sub-filmes históricos (Katia, por exemplo) na sua terra natal até que quis empreender um vôo mais alto a buscar oportunidades na França, quando conheceu, durante as filmagens de Christine (1958), de Pierre Gaspard-Huit, o jovem e bem apessoado Alain Delon por quem teve, por muitos anos, relação turbinada pela instabilidade. Apareceu numa ponta em O sol por testemunha (Plein soleil, 1960), de René Clement, obra perturbadora para a época pelo rigor da mise-en-scène deste.
Luchino Visconti se apaixonou pela sua personalidade e lhe deu um papel num dos episódios de Boccaccio 70 (1962) intitulado O trabalho (Il lavoro) - os outros são de autoria de Fellini, DeSica e Mario Monicelli, mas o filme foi lançado sem o deste último, que pode ser visto agora na versão completa em DVD). No mesmo ano de Boccaccio 70, foi aproveitada por Orson Welles em O processo (The trial). A carreira de Romy Schneider na Europa já estava se consolidando e, em 1963, já se encontrava no cast de filmes americanos, a exemplo de Os vitoriosos, de Carl Foreman, e O cardeal (The cardinal), de Otto Preminger. Fez comédias em Hollywood: Uma amor de vizinho (Good Neighbor Sam, 1964), de David Swift, O que é que há gatinha (What's new pussycat, 1965), de Clive Donner, uma comédia pop, primeira aparição de Woody Allen no cinema.
De volta à Europa, trabalhou em muitos filmes, com bons cineastas: Os inocentes de mãos sujas (Les innocents aux mains sales, 1975), de Claude Chabrol, O assassinato de Trotsky (The Assassination of Trotsky, 1973), do grande e hoje esquecido Joseph Losey, César e Rosalie (César et Rosalie, 1972), de Claude Sautet (com este, outros filmes, como Max et les ferrailleurs e As coisas da vida [Les choses de la vie, 1970] ao lado de Michel Piccoli), Ludwig (1972), do esteta Luchino Visconti a viver, novamente Elisabeth da Áustria (nos cinemas, passou desfigurado, mas a cópia em DVD é integral), entre outros.
Morreu jovem, a coitada, com apenas 44 anos de enfarte violento. Nasceu em Viena (Áustria) em 1938 e morreu na França em 1982. Abalada com a morte do filho, que ficou espetado nas vigas de um grande portão de ferro, começou a beber desesperadamente e a tomar comprimidos para dormir. Quem bem conta o calvário da bela é Ruy Castro em seu delicioso livro Cinema é para sempre, editado pela Companhia das Letras. Há 26 anos estamos sem Romy Schneider. Mas o que podemos fazer?

5 comentários:

alana disse...

Conheci e passei a ser fã de Romy Schneider porque minha mãe é louca pela fase Sissi da carreira dela, e fiquei curiosa. Conhecendo depois os filmes que fez com Visconti e os que fez na França a partir dos '70 passei a admirá-la não só pela beleza mas também pelo talento - ambos raros e inequecíveis.

Anônimo disse...

Grande lembrança Setaro. Acrescento apenas um filme menor, A Piscina de Jacques Deray(1969), onde ele exibe sua bela plástica ao sol da Riviera Francesa tendo Delon como companheiro de cena.

André Setaro disse...

Sumido Romero,
Esqueci de "A piscina", de 1969, direção de Jacques Deray, com roteiro de Jean-Claude Carrière (colaborador assíduo da última fase de Buñuel). Mas também não me propus a fazer um levantamento da filmografia da bela Romy Schneider. De qualquer forma, agradeço-lhe a lembrança. Trata-se, se não me falha a memória gasta pelo álcool, e já destituída dos neurônios tão necessários a ela, de um "ménage-a-trois" a envolver "Sissi", Alain Delon (é bom de ver que Romy trabalhou em muitos filmes com seu ex-namorado, talvez a paixão de sua vida), e Maurice Ronet. Deray mistura, e digo isso apenas me apoiando em rasgos memorialísticos, melodrama e "thriller" com um resultado acima da média. Romy aparece como Deus criou a mulher, nua em pêlo, assim como há um plano que mostra, com muita generosidade, a sua nudez de bruços em "Os inocentos de mãos sujas", de Claude Chabrol.

No ano seguinte, Deray realizou "Borsalino", com Delon e Jean-Paul Belmondo, cujo sucesso pediu uma continuação bem inferior ao original e não sei se dirigida por ele.

Alessandra disse...

Há pessoas, belas e talentosas, que o destino lhes fornece a tragédia como ato final de uma vida atormentada. Penso em Judy Garland, que morreu sozinha, aos 48 anos, de enfarte, num apartamento londrino e somente foi encontrada depois de dois dias quando sua carne já se encontrava em decomposição. A maravilhosa atriz, que tanto alegria nos deu com o seu talento insuperável, sua originalidade, foi descoberta pelo cheiro de carne podre sentido pelos seus vizinhos. Bebia muito, era alcóolatra e tomava muitos barbitúricos. Seu divórcio de Vincente Minnelli foi decorrência de seus acessos alcóolicos, que, apesar dele ser apaixonado por ela, provocou em Minnelli o pedido de separação, pois já não aguentava com Judy embriagada, gritando, perturbando a sua paz doméstica.

Romy Schneider também foi vítima desse destino cruel. Porque uma mulher tão bela e com tanto talento, segue o curso da destruição? Ao morrer aos 44 anos, Schneider praticamente provocou o seu passamento com a ingestão de bebidas e remédios. Desesperada, sozinha, a amargar a morte do filho, telefonava de madrugada para os conhecidos em ligações intermináveis. Pouco a pouco, eles começaram a não mais atender aos telefonemas da atriz de "Sissi". Sozinha e abandonada, morreu.

Jonga Olivieri disse...

Romy, simplesmente unvergesslich!