Surpreendente A espiã (Zwartboeck, Holanda, Alemanha, Bélgica, 2008), de Paul Verhoeven, que, desacreditado em Hollywood, volta à Europa para realizar um filme magnífico que faz lembrar Fritz Lang e Alfred Hitchcock. Cortes funcionais, exato conceito de duração das tomadas, câmera sempre em enquadramento sugestivo, e um ritmo alucinante, um timing perfeito. Verhoeven é um cineasta que sabe fazer cinema com a sabedoria dos grandes mestres do pretérito, e, mais importante, um cinema sem concessões com alguns momentos de choque para compor a estrutura narrativa de elementos fortes em função do que está a ser dito através de insólitos procedimentos cinematográficos. É a narrativa, aqui em Zwartboeck, que puxa a fábula, que se encarrega de dar a dimensão fabulosa de sua mise-en-scène.
Num momento em que a estética da tesourinha, do vídeoclip, está desgraçadamente incorporada ao espetáculo cinematográfico, Vergoeven retrocede ao que é mais sábio na articulação das imagens em movimemto, mas um retrocesso, que fique claro, num sentido de resgate de um cinema cuja fonte são os grandes mestres desaparecidos ou aposentados. Quem está a assistir a A espiã não pode deixar de notar a influência de Lang no tratamento dos personagens, na visão cínica dos seres, e na concepção da fatalidade, do destino que bate às suas portas. Em Hitchcock, o gosto pela estrutura audiovisual apurada, os elementos dispostos no roteiro para índice de efeitos futuros (o chocolate, a insulina...).
A trama, se contada assim, na narrativa escrita (ou mesmo oral) pode parecer de uma certa banalidade. Mas transposta para o cinema de Verhoeven se transfigura em cinema de impacto, um cinema que, recolhendo as lições dos cineastas do grande segredo, se faz impactante e atual.
A cantora judia Rachel Steinn (Carice van Houten, e que mulher bonita, e que se tenha pena do comentarista por não poder possuí-la)), durante a Segunda Guerra Mundial, resolve unir-se a um grupo de judeus para encontrar a liberdade no sul da Holanda. No entanto, o barco onde viajam é interceptado por uma patrulha alemã e somente Rachel escapa viva. Sob o nome falso de Ellis de Vries, ela consegue ficar amiga do oficial alemão Müntze (Sebastian Koch), que arruma um emprego à jovem sem saber que ela faz parte da resistência. Quando um plano dá errado, Rachel acaba sendo perseguida não somente pelos alemães, mas também pelos membros da resistência.
Realizador de grandes filmes na sua fase inicial, Verhoeven foi tentar a sorte em Hollywood e, logo, demonstrou ser um cineasta especial com Robocop para, depois, realizar uma science-fiction bem acima da média, O vingador do futuro (Total recall). Mas seu grande filme na fase hollywoodiana foi Instinto selvagem (Basic instint, 1992), que fez descobrir o sex-appeal de Sharon Stone. Muitos detestaram Showgirls e Tropas estrelares, mas não se pode deixar de ver, no primeiro, qualidades básicas na exposição de uma realidade brutal. Desiludido, voltou a seu habitat e, a julgar por A espiã, se posiciona a ser um dos grandes cineastas da atualidade, resgatando a inventiva, o talento, a sagacidade e a aguda percepção do sentido do cinema que tinha nos seus primórdios.
Num momento em que a estética da tesourinha, do vídeoclip, está desgraçadamente incorporada ao espetáculo cinematográfico, Vergoeven retrocede ao que é mais sábio na articulação das imagens em movimemto, mas um retrocesso, que fique claro, num sentido de resgate de um cinema cuja fonte são os grandes mestres desaparecidos ou aposentados. Quem está a assistir a A espiã não pode deixar de notar a influência de Lang no tratamento dos personagens, na visão cínica dos seres, e na concepção da fatalidade, do destino que bate às suas portas. Em Hitchcock, o gosto pela estrutura audiovisual apurada, os elementos dispostos no roteiro para índice de efeitos futuros (o chocolate, a insulina...).
A trama, se contada assim, na narrativa escrita (ou mesmo oral) pode parecer de uma certa banalidade. Mas transposta para o cinema de Verhoeven se transfigura em cinema de impacto, um cinema que, recolhendo as lições dos cineastas do grande segredo, se faz impactante e atual.
A cantora judia Rachel Steinn (Carice van Houten, e que mulher bonita, e que se tenha pena do comentarista por não poder possuí-la)), durante a Segunda Guerra Mundial, resolve unir-se a um grupo de judeus para encontrar a liberdade no sul da Holanda. No entanto, o barco onde viajam é interceptado por uma patrulha alemã e somente Rachel escapa viva. Sob o nome falso de Ellis de Vries, ela consegue ficar amiga do oficial alemão Müntze (Sebastian Koch), que arruma um emprego à jovem sem saber que ela faz parte da resistência. Quando um plano dá errado, Rachel acaba sendo perseguida não somente pelos alemães, mas também pelos membros da resistência.
Realizador de grandes filmes na sua fase inicial, Verhoeven foi tentar a sorte em Hollywood e, logo, demonstrou ser um cineasta especial com Robocop para, depois, realizar uma science-fiction bem acima da média, O vingador do futuro (Total recall). Mas seu grande filme na fase hollywoodiana foi Instinto selvagem (Basic instint, 1992), que fez descobrir o sex-appeal de Sharon Stone. Muitos detestaram Showgirls e Tropas estrelares, mas não se pode deixar de ver, no primeiro, qualidades básicas na exposição de uma realidade brutal. Desiludido, voltou a seu habitat e, a julgar por A espiã, se posiciona a ser um dos grandes cineastas da atualidade, resgatando a inventiva, o talento, a sagacidade e a aguda percepção do sentido do cinema que tinha nos seus primórdios.
3 comentários:
Faltou na pesquisa White Hunter Black Heart (1990)um filme do eastwood pouco citado que eu considero o melhor dele como diretor.
Sempre o passado a condenar o presente: adoro Verhoeven, mas em comparação com O Quarto Homem, que vi na mesma semana quase, esse A Espiã me parece se alongar demais, e todo o domínio narrativo da primeira parte começa a se esvair. Acho que o filme começa a relaxar no final, ter vários desfechos, e a precisão dos cortes da lugar um ritmo mais arrastado. O que não acontece nos grandes filmes dele, como, mais uma vez, O Quarto Homem, e Instinto Selvagem.
Grande Setaro, que bom que gostou de A ESPIÃ! Acho uma bela obra-prima, e talvez o melhor do ano até agora, senão no Top 5. Escrevi um artigo a partir dele na época do lançamento, te convido pra ler. Abraço!
http://www.filmespolvo.com.br/site/artigos/contra_plongee/10
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