Um grande cineasta que se encontra na vala comum do esquecimento é Frank Tashlin. Ainda que goste muitíssimo de Se meu apartamento falasse (The apartment, 1960), para mim o melhor filme de Billy Wilder, vejo, porém, nele, notórias influências de Em busca de um homem (Will success spoil Rock Hunter?, 1957), com Jayne Mansfield (que Tashlin conseguiu a proeza de fazê-la uma comediante neste e em outro filme), Tony Randall. Esta obra importante, sobre ser uma comédia deliciosa, é um espetáculo metalinguístico avant la lettre. Trata, assim como na fita de Wilder, de ascensão profissional dentro de uma empresa, e a cena da chave do banheiro executivo é hilariante (I. A. L. Diamond e Wilder a copiaram, sem desmérito para o filme, de Will success spoil Rock Hunter?) É uma pena que não possa ser encontrado em DVD - pelo menos não tenho disso conhecimento - e a causa é o esquecimento completo de Frank Tashlin. Mas este realizador fez a alegria dos cinéfilos dos anos 50 e 60. Não apenas por este primor que é Will success spoil Rock Hunter? (o título em português é totalmente idiota), mas também por outros exercícios de metacinema e de humor contagiante realizados por Tashlin, a exemplo de Sabes o que eu quero (The girl can't help it, 1956), também com Mansfield, Tom Ewell (aquele de O pecado mora ao lado cuja família sai de férias e ele descobre, sozinho, que a sua vizinha é a esfuziante Marilyn Monroe em obra também do grande Wilder). Em The girl can't help it o filme começa em tela plana e preto e branco com Tom Ewell a falar para o espectador, a dizer que o filme é em cinemascope colorido. É então que a tela se abre na largura do formato. Tashlin é de um humor devastador e foi ele quem sinalizou para Jerry Lewis, genial, a verdade do processo de criação no cinema. Mas Lewis extrapolou o humor explosivo do mestre, transcendendo-o. Se a gag tashliniana quase chega a provocar uma explosão em Lewis esta ocorre realmente num non sense paradoxal. Basta dizer que no ano de sua morte, 1974 (nasceu em 1913), Tashlin já estava esquecido. É muito possível que o especialista Romero Azevedo o conheça e o tenha de cor pelo menos nos seus principais filmes.
Will success spoil Rock Hunter? passou há cinco anos no extinto Telecine Classic, quando pude revê-lo, pois meu conhecimento desta obra quase prima se deu em verdes anos. A exibição se deu na mesma época de The girl can't help it e, até hoje, me arrependo de não tê-los gravado em fita magnética. Neste último trabalha também Edmond O'Brien (o inesquecível jornalista bêbado de O homem que matou o facínora, de John Ford) numa caracterização totalmente anárquica.
Nesta época de intensa globalização e perda de humanismo no cinema e em tudo dificilmente seria realizado um filme como Will success spoil Rock Hunter?, pois a sua mensagem, à parte toda a anarquia da comédia e da sua metalinguagem - de repente o filme se interrompe como se o projetor estivesse quebrado, é pelo humanismo e contra o sistema. O dono da empresa, no final, a abandona para fazer o que mais gosta: cultivar rosas em seu jardim.
Não posso citar todos os grandes filmes de Frank Tashlin, mas que venham aqui alguns de minha preferência: Artistas e modelos (Artists and models, 1955), com Lewis e Dean Martin, O tenente era ela (The lieutenant wore skirts, 1956), com Sheree North e Tom Ewell, Ou vai ou racha (Hollywood or bust, 1956), de Martin e Lewis, e, ainda, Anita Ekberg pré-doce vida, Bancando a ama-sêca (Rock a bye baby, 1958), com Lewis solo, o surpreendente O rei dos mágicos (The geisha boy, 1958). Neste, em Tóquio, um japonês gordo cai na piscina do hotel e inunda toda a cidade. E Armadilha para solteiros (Bachelor flat, 1962), com a gostosíssima Tuesday Weld e Richard Beymer (que tinha acabado de trabalhar em West Side Story).
Não posso citar todos os grandes filmes de Frank Tashlin, mas que venham aqui alguns de minha preferência: Artistas e modelos (Artists and models, 1955), com Lewis e Dean Martin, O tenente era ela (The lieutenant wore skirts, 1956), com Sheree North e Tom Ewell, Ou vai ou racha (Hollywood or bust, 1956), de Martin e Lewis, e, ainda, Anita Ekberg pré-doce vida, Bancando a ama-sêca (Rock a bye baby, 1958), com Lewis solo, o surpreendente O rei dos mágicos (The geisha boy, 1958). Neste, em Tóquio, um japonês gordo cai na piscina do hotel e inunda toda a cidade. E Armadilha para solteiros (Bachelor flat, 1962), com a gostosíssima Tuesday Weld e Richard Beymer (que tinha acabado de trabalhar em West Side Story).
4 comentários:
Passei boa parte de minha adolescência me deliciando com os filmes de Frank Tashlin. Obrigada Setaro por recordá-lo.
Sobre o diretor num imprescindível fórum espanhol, em castelhano:
http://www.cine-clasico.com/foros/viewtopic.php?f=68&t=17161&p=119347&hilit=Will+success+spoil+Rock+Hunter%3F#p119347
Inclusive com toda sua filmografia - animações etc. - disponível para download, via emule (ed2k).
Caro prof. Setaro,
por falta de outro, valho-me do recurso dos comentários para fazer uma observação quanto à enquete que aparece na coluna da esquerda de seu blog, sobre a interferência da (inevitável, nos tempos que correm) captação de recursos na criatividade dos roteiristas e na liberdade de expressão dos cineastas.
Parece-me que as duas primeiras perguntas são, no fundo, a mesma questão, pois o roteiro não passa do desenvolvimento por escrito da idéia. E tanto faz se fica "moldado ao gosto da empresa" ou "preso ao acolhimento pelo patrocinador" (votei, em todo caso, pela segunda opção, que me pareceu mais objetiva, até porque não acho que empresas tenham gosto por cinema; têm, sobretudo, gosto por dinheiro).
Num caso e noutro, o resultado é o mesmo: caso decida (sabe-se lá com que critérios mercadológicos) apoiar uma produção cinematográfica, a empresa (às vezes indicada erroneamente como "investidora em cultura"; investimento é operação financeira de risco, patrocínio é puro marketing e sempre traz benefício para o patrocinador) terá sua marca corporativa veiculada por um produto artístico de qualidade, ao custo social de menos recursos públicos para educação, saúde, habitação, etc., graças à duvidosa fórmula de renúncia fiscal.
Não sou contra o apoio decisivo do Estado às atividades culturais, em particular as cinematográficas. No entanto, creio que está sobejamente demonstrado que o sistema atual de "incentivo à cultura", em qualquer nível de governo, gera distorções que precisam ser debatidas pela sociedade e corrigidas.
Peço-lhe que, para benefício de todos nós, apreciadores de seu blog e de sua coluna no Terra Magazine, comente o assunto, em função das respostas que obtiver com sua pesquisa.
Um abraço!
Frank Ferreira
Cineclube Darcy Ribeiro (São Paulo, SP)
Pena que Tashlin tenha morrido no ostracismo porque não merecia. Você bem destacou a influência exercida por ele sobre outros realizadores importantes da cinematografia hollywoodiana, como Billy Wilder por exemplo.
“A espião de calcinhas de renda” com Doris Day e Rod Taylor, uma mistura de comédias romântica e de espionagem é uma realização das mais expressivas do autor. E os filmes de Jerry Lewis como “Artistas e modelos”, “Bagunceiro arrumadinho”, “Bancando a ama-seca” ou “Cinderelo sem sapato”, além de outros que você citou na sua postagem mostram a força de Frank Tashlin como diretor.
Postar um comentário