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18 julho 2007

Homenagem a Walter da Silveira






Pioneira como casa alternativa de exibição cinematográfica, a Sala Walter da Silveira, que funciona no prédio da Biblioteca Central, Barris, Rua General Labatut, cujo nome é uma justa homenagem ao grande ensaísta baiano, tem um fim de semana bem sortido, com muitos programas e alguma agitação para tirar o marasmo cultural da província. O seminário da semana passada agitou suficientemente a ponto de já se tornar um programa do calendário no que diz respeito ao campo do cinema. Para o week-end, a Sala Walter da Silveira programou passar, e em 35mm, Quanto mais quente melhor (Some like it hot, 1959), deliciosa comédia de Billy Wilder, com Jack Lemmon, Tony Curtis e Marilyn Monroe, Os espiões, filme mudo de Fritz Lang, A grande feira, de Roberto Pires, e Tenda dos milagres, que Nelson Pereira dos Santos filmou na Bahia segundo os ditames do livro homônimo de Jorge Amado. Pode assim, à primeira vista, parecer um programa híbrido, e não deixa de sê-lo, mas tem tudo a ver.
Quanto mais quente melhor faz parte da programação normal da semana, e fica em cartaz entre os dias 20 e 27 de julho em diversos horários. Ainda que bastante conhecida, a comédia há muito que não é exibida em 35mm em telão de cinema mesmo, ficando restrita ao DVD ou ao VHS ou, ainda, tv a assinatura ou cabo. A oportunidade, portanto, é única, e o programador da referida sala promete trazer muitos clássicos em película, em verdadeiro celulóide. Já está acertado - maiores detalhes depois - uma mostra importantíssima de Kenji Mizoguchi, algo assim para nenhum cinéfilo botar defeito. Programação de dar água na boca. Numa parceria com a Embaixada do Japão em Recife, vários mizoguchis com legendas em português.
Tenda dos milagres, de Nelson Pereira dos Santos, é uma promoção da Jornada Internacional de Cinema da Bahia (leia-se Guido Araújo) pelos 30 anos de seu lançamento, que ocorreu em 1977 (agora me assustei, realmente, pois me lembro de uma sessão especial no cinema Excelsior, que ficava na Praça da Sé, quando o filme foi apresentado para a imprensa baiana). Todo rodado em Salvador, a equipe de Nelson se estabeleceu no Pelourinho e o filme, se outros atributos não possuisse, é um manancial de curiosidade das coisas da Bahia, gente famosa, pontas, locações, etc. A construção se dá no movimento temporal, com o jogo entre presente e passado e, também, uma espécie assim de reflexão sobre o fazer cinema. Nelson estava numa fase muito baiana e pouco tempo depois se estabeleceria em Cachoeira, cidade histórica, para rodar, com capital misto entre brasileiros e franceses, Jubiabá, que foi tremenda decepção quando apresentado na sala do Clube Bahiano de Tênis, antes deste clube dar existência à sala alternativa que foi ceifada pela Perini, empresa de delicatessen que, alugando todo o espaço do clube social, mandou às favas uma salinha que passava filmes alternativos que se diziam de arte.

O grande dia, porém, é o domingo, dia 22, data aniversária de Walter da Silveira, que, se vivo fosse, estaria completando (é de 1915) 92 anos. Para homenagear o grande ensaísta, que dá nome, inclusive, ao cinema, vai haver, a partir das 17 horas, o relançamento de sua obra completa reunida, por José Umberto Dias, em preciosos quatro volumes. O lançamento, que ocorreu em dezembro do ano passado, às pressas e no apagar das luzes do governo que foi substituído, deixou muita gente sem saber (o bloguista, para dar um exemplo, estava hospitalizado, esperando suas pontes de safena, que viriam, lépidas, dias mais tarde a ser implantadas em seu pobre coração, vítima de herança genética cruel, e incentivado pelos excelentes coadjuvantes que são o álcool e o cigarro). Kátia da Silveira, filha do crítico, que batalha há mais de uma década para ver a obra do pai publicada há de estar presente, assim como o organizador, o cineasta José Umberto, que vem de terminar as filmagens de seu segundo longa metragem, Revoada, que retoma, em grande estilo, o nordestern, o filme de cangaceiro.

Mas para homenager Walter da Silveira, além do relançamento de sua obra completa (em pesados volumes), dois filmes foram escolhidos: Espiões (Spione, 1928), de Fritz Lang (17:30) e A grande feira (20:00). O primeiro, obra de um imenso cineasta em sua fase muda, quando ainda na Alemanha do expressionismo. O outro, filme baiano, no qual Walter da Silveira trabalha numa ponta como o dono de um boteco instalado na Feira de Água de Meninos. Walter participaria ainda como ator de O pagador de promessas, como um padre, que delibera com outros clérigos importantes sobre o destino a ser dado a Zé do Burro, que incomodava a Igreja com a sua presença nas escadarias do Passo.
As fotos, uma de Walter, a outra, hiperealista, da sala.

Um comentário:

Jonga Olivieri disse...

Olha, Walter da Silveira sempre merece todo tipo de homenagem que seja possível fazer.
É a memória da cultura baiana (quiçá brasileira), de uma época em que elas ainda existiam com a força que nós presenciamos aí em Salvador nos idos dos 60.
É preciso fazer com que as novas gerações -- invadida pela subcultura "fastfood global" --possam ter conhecimento deste que foi um dos maiores conhecedores e/ou divulgadores do cinema como um todo...