Annie Hall (1977), de Woody Allen, que tomou, no Brasil, o ridículo título de Noivo nervoso, noiva nervosa, é, sem dúvida, um dos melhores filmes do realizador - o recente Ponto final (Match point, 2005) também se enquadra no panteão alleniano. Allen está inspiradíssimo nesse filme, que reflete muito bem os modismos da intelectualidade nos anos 70. Filme sobre o amor e a ilusão do amor, reflexão sobre os dilemas dos relacionamentos humanos, veículo para Diane Keaton, a amada, na época, do diretor, visão irônica da intelectualidade novaiorquina, Annie Hall é também um filme sobre o cinema. Já com quase 40 anos - parece que o vi ontem, o que faz imperativo a exclamação: "Ó tempo, suspende o teu vôo".
Com exceção de Desestruturando Harry (1997) e Quero dizer eu te amo, ou, talvez, Celebridades, Allen passou a última década fazendo um filme atrás do outro, sem, contudo, alcançar o nível do passado. Pode-se dizer que o autor de Annie Hall entrou num processo de franca decadência nos últimos tempos. Que não tenha se repetido, não é o caso, pois todo autor de filme se repete, como já disse aqui, mas por falta de inspiração. A redenção veio com Match point, que, se não o redime dos fracassos anteriores, pelo menos ele volta a ser um Allen brilhante como o de A rosa púrpura do Cairo, Zelig, Manhattan, Memórias, e Crimes e pecados - com o qual Ponto final tem alguma afinidade.
A predileção por Ingmar Bergman se faz patente em vários momentos: um cartaz de Face a face na porta do cinema enquanto Allen conversa com Keaton, a alusão a Morangos silvestres (Smultronstallet, 1957), quando Allen, Keaton, e Tony Roberts, passeando por Brooklin, onde o menino Allen passara a infância numa casa debaixo de uma montanha russa, vêem numa mesma tomada o passado de Allen, garoto, com sua família. Assim como o Professor Isaac Bjorg vê, depois de velho, no mesmo plano, a sua meninice, sentado na mesa com seus familiares. O presente e o passado no mesmo plano. Antes de Bergman, porém, quem utilizou o recurso com mais funcionalidade foi um conterrâneo do sueco, Alf Sjoberg, em Senhorita Júlia.
Impagável, a seqüência da fila do cinema com um pseudo intelectual a fazer digressões sobre Fellini, Marshall McLuhan, e outros, com a linguagem típico do jargão acadêmico. Allen se irrita e diz que ele não entende nada de MacLuhan. Ele se diz professor universitário de festejada universidade americana, mas, de repente, Allen chama o famoso comunicóloco que diz ao professor que, realmente, pelo que ouviu, ele nada entende de suas teorias.
Diane Keaton, nesse filme, lançou até moda com seus vestidos diferentes, com gravata, etc. Annie Hall ganhou vários Oscars, mas Allen esnobou não indo buscá-los, a preferir ficar no seu clube de jazz. No elenco, além da dupla central, Tony Roberts, Shelley Duvall (a magricela que depois seria muito bem aproveitada por Robert Altman - principalmente em Três mulheres e Popeye, e Stanley Kubrick em O iluminado), Sigourney Weaver (ponta quase impercptível), Carol Kane, Paul Simon, Janet Margolin, Christopher Walker (como Duane, irmão de Keaton, sujeito meio aloprado, que depois faria um papel magistral em O franco atirador, de Michael Cimino, que considero o melhor filme sobre o Vietnã, superior mesmo a Apocalipse Now, de Coppola), Jeff Goldblum (a mosca de Cronneberg), entre outros.
Com exceção de Desestruturando Harry (1997) e Quero dizer eu te amo, ou, talvez, Celebridades, Allen passou a última década fazendo um filme atrás do outro, sem, contudo, alcançar o nível do passado. Pode-se dizer que o autor de Annie Hall entrou num processo de franca decadência nos últimos tempos. Que não tenha se repetido, não é o caso, pois todo autor de filme se repete, como já disse aqui, mas por falta de inspiração. A redenção veio com Match point, que, se não o redime dos fracassos anteriores, pelo menos ele volta a ser um Allen brilhante como o de A rosa púrpura do Cairo, Zelig, Manhattan, Memórias, e Crimes e pecados - com o qual Ponto final tem alguma afinidade.
A predileção por Ingmar Bergman se faz patente em vários momentos: um cartaz de Face a face na porta do cinema enquanto Allen conversa com Keaton, a alusão a Morangos silvestres (Smultronstallet, 1957), quando Allen, Keaton, e Tony Roberts, passeando por Brooklin, onde o menino Allen passara a infância numa casa debaixo de uma montanha russa, vêem numa mesma tomada o passado de Allen, garoto, com sua família. Assim como o Professor Isaac Bjorg vê, depois de velho, no mesmo plano, a sua meninice, sentado na mesa com seus familiares. O presente e o passado no mesmo plano. Antes de Bergman, porém, quem utilizou o recurso com mais funcionalidade foi um conterrâneo do sueco, Alf Sjoberg, em Senhorita Júlia.
Impagável, a seqüência da fila do cinema com um pseudo intelectual a fazer digressões sobre Fellini, Marshall McLuhan, e outros, com a linguagem típico do jargão acadêmico. Allen se irrita e diz que ele não entende nada de MacLuhan. Ele se diz professor universitário de festejada universidade americana, mas, de repente, Allen chama o famoso comunicóloco que diz ao professor que, realmente, pelo que ouviu, ele nada entende de suas teorias.
Diane Keaton, nesse filme, lançou até moda com seus vestidos diferentes, com gravata, etc. Annie Hall ganhou vários Oscars, mas Allen esnobou não indo buscá-los, a preferir ficar no seu clube de jazz. No elenco, além da dupla central, Tony Roberts, Shelley Duvall (a magricela que depois seria muito bem aproveitada por Robert Altman - principalmente em Três mulheres e Popeye, e Stanley Kubrick em O iluminado), Sigourney Weaver (ponta quase impercptível), Carol Kane, Paul Simon, Janet Margolin, Christopher Walker (como Duane, irmão de Keaton, sujeito meio aloprado, que depois faria um papel magistral em O franco atirador, de Michael Cimino, que considero o melhor filme sobre o Vietnã, superior mesmo a Apocalipse Now, de Coppola), Jeff Goldblum (a mosca de Cronneberg), entre outros.
8 comentários:
Engraçado, Setaro - acho que foi de propósito a troca de três títulos: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Todos dizem eu te amo e Descontruindo Harry, no lugar do que vc escreveu.
De qualquer jeito, eu acho a década de 90 a melhor de Allen. A seqüência é impressionante: Maridos e Esposas (q só n eh melhor q Manhattan), Um Misterioso Assasinato em Manhattan, Tiros na Broadway, Poderosa Afrodite, Todos Dizem Eu te Amo, Descontruindo Harry e Celebridades. Ele pode ter feito melhores, mas não desse jeito, um atrás do outro, e com padrão de qualidade tão alto.
Ei, Setaro,
é engraçado que este último filme do Woody me deixou de pé atrás, e você cita uma série de filmes que considera de primeira linha dele e que eu não engulo de jeito nenhum, A Rosa Púrpura à frente de todos.
Já esta última década dele, depois que separou da ex-mulher, aquela atriz, ela não é pretensiosa, eu gosto. Até concordo que talvez lhe falte esses grandes filmes, como "Annie Hall", que fizeram a sua fama. Mas, caramba, acho que quando resolver ser sério, o WA faz questão que a gente não dê uma risada, não é? Ele despreza o humor, parece.
Enfim, um abraço. É um prazer frequentar teu blog
Ah, sobre o Match Point - e sobre o comentário do Inácio Araújo aí embaixo. Gostei muito - parece que ele já cobriu esse território em Crimes e Pecados, mas Match POint acaba se revelando um interessantíssimo filme de época sobre escroques ingleses espertos. É Barry Lyndon de novo. 200 anos depois, todo mundo fala do mesmo jeito, as regras (do jogo) não mudam.
Woody Allen diz que despreza o humor mesmo - diz que sempre quis fazer tragédias. Estranho, parece que ele prefere comédia, em seu statement sobre isso, Melinda e Melinda. De qualqer jeito, saiu no Globo, semana passada: ele diz que Match Point é seu melhor filme. Tá errado.
Mestre Setaro, sou leitor assiduo do teu blog.....fui assistente do Carlao no Garotas do ABC e nao sei porque cargas dagua nunca me manifestava....mas hoje estou me retratando disso.
Adicionei o teu aos favoritos!
Akele abc e bom carnaval
Grande Setaro! Obrigado pela citação a mim no post abaixo, não mereço tanto... :-) Fico orgulhoso! E quanto ao Annie Hall, simplesmente fenomenal, realmente... Abraço!
Ooooi professor! =D
Adorei o texto sobre Woody Allen, gosto muito ele, já vi uns 20 e tantos filmes dele...
Soube que está sendo exibido um filme INFANTIL chamado "ABC" alguma coisa que é uma paródia dos filmes do Allen... Achei interessante, acho que vou ver.
Concordo com os comentários anteriores, achei a década de 90 do Allen bem legal. O triste foi o começo dos anos 2000, com "Dirigindo no escuro" e coisa e tal, mas parece que agora ele se reabilitou.
Agora, sou louca por "A rosa púrpura", choro feito criança naquele final (eu sou fã do Astaire, né)
O senhor sabia que o título "Annie Hall" é por causa da Diane Keaton né? ah, claro q sabia.
Tenho voltado ao cinema de Woody Allen nas últimas semanas. Pensei que Manhattan fosse implacável, mas Interiores é top dos tops - o que me fez lembrar o que disse o Inácio Araújo no comment abaixo.
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