Visto com reservas quando lançado no circuito, e esnobado como um filme vulgar sobre alma de outro mundo, Reencarnação (Birth, 2004), de Jonathan Glazer, tem, agora, em DVD, a oportunidade de ser reavaliado para se constatar da sua excelência. Se o título em português pode indicar uma fita espírita, por assim dizer, o espectador, por isso, talvez tenha abdicado de sua contemplação, mas se trata de uma obra de construção narrativa exemplar e um rigoroso estudo de comportamentos dentro de uma chave de observação de normalidade absoluta. O sobrenatural, evidentemente, paira todo momento no decorrer de Birth, mas o olhar de Glazer é um olhar que se poderia chamar quase ‘documentário’ com um cinema colocado em forte entonação. Fugindo da estética do vídeo-clip atual, Glazer preferiu dar à narrativa um tom solene e lento a fim de melhor criar a atmosfera e perscrutar os personagens. A lentidão, no entanto, está de acordo com as propostas do filme e provoca melhor o espectador do que se manipulado em tomadas aligeiradas e cortes incessantes. A lentidão, aqui, prende aquele que o assiste, que fica totalmente absorvido com o andamento da narrativa. Uma surpresa, portanto, Birth, filme que mostra que um assunto pode render muito se há, no cineasta, engenho e arte, talento, em suma. E Nicole Kidman, personagem principal, está inexcedível, situando-se como uma das atrizes mais atraentes e talentosas do cinema contemporâneo.
Glazer usa, com muita habilidade, o big close up, que poderia resultar em desarmonia por um cineasta que não tivesse a exata noção da utilização do rosto humano para fins expressivos. Há uma tomada digna de mestre, quando Nicole Kidman e o noivo entram na sala de um teatro, e a câmera se movimenta para acompanhá-los. Eles chegam atrasados e todos já se encontram em seus lugares. A câmera, sem cortes, acompanhando-os, fecha em close up no rosto de Kidman e aí permanece por algum tempo – considerando o tempo cinematográfico, poder-se-ia dizer, por muito tempo. A expressão da atriz, confusa, desesperada, em dúvida, é magnífica, e ela, por meio de suas contrações faciais, expressa o seu tormento interior.
O roteiro de Birth é de Jean-Claude Carrière (em parceria com Milo Addica), que escreveu os ‘scripts’ da última fase de Luis Buñuel, sendo considerado um dos mais talentosos roteiristas do cinema contemporâneo. Birth gira em torno de uma provável reencarnação do marido de Kidman num garoto de 10 anos. O tempo que passou desde a morte de seu esposo, quando decide, após várias tentativas frustradas de um apaixonado, ceder as pressões e marcar o casamento. Mas, de repente, surge o menino que diz ser Sean, o nome do falecido marido dela. Ele, narrando fatos pretéritos somente conhecidos do casal, convence Kidman de que realmente é o marido reencarnado. A tensão aumenta quando o garoto começa a perturbar a família, principalmente ao noivo dela, que, perturbado, agride-o.
O que está em jogo, em Birth, do ponto de vista da linguagem cinematográfica, é o apurado sentido de Jonathan Glazer em relação ao ‘conceito de duração’. Saber fazer durar uma tomada e, dela, extrair um grande poder de convencimento, é tarefa para poucos e, entre estes poucos, estão Coppola, Kubrick, e alguns mestres. Do ponto de vista temático, o sobrenatural paira para despertar o interesse do espectador, mas o filme não se restringe a isso, procurando, com seus detalhes, pesquisar comportamentos de pessoas em determinadas situações que se poderiam considerar limítrofes.
Além da bela e sensual, sensual e bela Nicole Kidman (que nasceu em Honolulu, Hawaii), destaque para o menino que se diz estar reencarnado interpretado por Cameron Bright, Alison Elliot, como Laura, a irmã de Kidman, Peter Stormare, como o amigo, Anne Heche, Danny Huston, no papel do noivo, e, por fim, a veterana Lauren Bacall, maltratada pelo tempo aos 80 anos, um pálido reflexo da bela jovem que um dia se casou com o mito Humphrey Bogart. Mas é uma atriz ainda capaz de convencer.
A aparência de absoluta normalidade, a vida mostrada nos seus gestos cotidianos, a ausência de efeitos, e o rigor da construção, fazem de Birth um dos bons lançamentos desse ano de 2005, que já se vai pelo meio de seu itinerário.
Glazer usa, com muita habilidade, o big close up, que poderia resultar em desarmonia por um cineasta que não tivesse a exata noção da utilização do rosto humano para fins expressivos. Há uma tomada digna de mestre, quando Nicole Kidman e o noivo entram na sala de um teatro, e a câmera se movimenta para acompanhá-los. Eles chegam atrasados e todos já se encontram em seus lugares. A câmera, sem cortes, acompanhando-os, fecha em close up no rosto de Kidman e aí permanece por algum tempo – considerando o tempo cinematográfico, poder-se-ia dizer, por muito tempo. A expressão da atriz, confusa, desesperada, em dúvida, é magnífica, e ela, por meio de suas contrações faciais, expressa o seu tormento interior.
O roteiro de Birth é de Jean-Claude Carrière (em parceria com Milo Addica), que escreveu os ‘scripts’ da última fase de Luis Buñuel, sendo considerado um dos mais talentosos roteiristas do cinema contemporâneo. Birth gira em torno de uma provável reencarnação do marido de Kidman num garoto de 10 anos. O tempo que passou desde a morte de seu esposo, quando decide, após várias tentativas frustradas de um apaixonado, ceder as pressões e marcar o casamento. Mas, de repente, surge o menino que diz ser Sean, o nome do falecido marido dela. Ele, narrando fatos pretéritos somente conhecidos do casal, convence Kidman de que realmente é o marido reencarnado. A tensão aumenta quando o garoto começa a perturbar a família, principalmente ao noivo dela, que, perturbado, agride-o.
O que está em jogo, em Birth, do ponto de vista da linguagem cinematográfica, é o apurado sentido de Jonathan Glazer em relação ao ‘conceito de duração’. Saber fazer durar uma tomada e, dela, extrair um grande poder de convencimento, é tarefa para poucos e, entre estes poucos, estão Coppola, Kubrick, e alguns mestres. Do ponto de vista temático, o sobrenatural paira para despertar o interesse do espectador, mas o filme não se restringe a isso, procurando, com seus detalhes, pesquisar comportamentos de pessoas em determinadas situações que se poderiam considerar limítrofes.
Além da bela e sensual, sensual e bela Nicole Kidman (que nasceu em Honolulu, Hawaii), destaque para o menino que se diz estar reencarnado interpretado por Cameron Bright, Alison Elliot, como Laura, a irmã de Kidman, Peter Stormare, como o amigo, Anne Heche, Danny Huston, no papel do noivo, e, por fim, a veterana Lauren Bacall, maltratada pelo tempo aos 80 anos, um pálido reflexo da bela jovem que um dia se casou com o mito Humphrey Bogart. Mas é uma atriz ainda capaz de convencer.
A aparência de absoluta normalidade, a vida mostrada nos seus gestos cotidianos, a ausência de efeitos, e o rigor da construção, fazem de Birth um dos bons lançamentos desse ano de 2005, que já se vai pelo meio de seu itinerário.
Um comentário:
o que eu estava procurando, obrigado
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